A ausência de qualquer manifestação pública do prefeito de Maceió, JHC, sobre a prisão de Jair Bolsonaro abriu mais uma fissura entre o gestor e a ala bolsonarista do PL em Alagoas. O desconforto não é pequeno. Lideranças locais fazem questão de lembrar que a capital alagoana foi o único território do Nordeste onde Bolsonaro venceu Lula em 2022, um dado usado repetidamente por políticos alinhados à direita para reforçar identidade e território político. Para esse grupo, o prefeito, eleito pelo partido do ex-presidente, tem evitado se comprometer publicamente em momentos que consideram decisivos.
A cobrança mais recente veio do vereador Leonardo Dias, também do PL, que pressiona JHC há meses. Em entrevista ao Na Mira da Notícia, da Rádio 96 FM, Dias disse ter esperado “ao menos um posicionamento humanitário” diante da prisão de Bolsonaro. Para ele, o silêncio do prefeito é calculado e revela uma escolha política. O parlamentar já havia sinalizado incômodo com o que considera uma condução “desalinhada” do PL estadual, dirigido pelo próprio JHC.
Leonardo Dias reforçou ainda que continuará defendendo a anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro, sempre dentro do espaço que o cargo de vereador lhe permite. Mesmo assim, o discurso deixa claro o distanciamento interno no partido e a tentativa de marcar posição em um momento em que a direita busca reorganização nacional.
A pressão não se limita ao prefeito. Dias também cobrou, recentemente, a senadora Eudócia Caldas, mãe de JHC, por ser a última representante do PL no Senado a não assinar o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes. O gesto indica coordenadas políticas mais amplas: a ala bolsonarista quer alinhamento total e usa a visibilidade do tema para testar e enquadrar aliados.
O incômodo estoura em um momento em que pesquisas eleitorais colocam JHC como um dos principais nomes na disputa pelo governo de Alagoas. A própria militância bolsonarista costuma apresentar o desempenho eleitoral da capital como vitrine de força. Por isso, o silêncio do prefeito se torna ainda mais sensível: para parte do PL, neutralidade em um episódio que reorganiza o tabuleiro nacional não é apenas estratégia, é sinal de afastamento. A tendência é que a cobrança continue.