A nomeação de um ex-vereador de Japaratinga cassado por fraude à cota de gênero para um cargo comissionado na Assembleia Legislativa de Alagoas é mais um exemplo de como o sistema político alagoano insiste em ignorar a noção de responsabilidade pública.
Menos de três meses após perder o mandato por decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AL), o ex-vereador aparece na folha de pagamento da ALE como assessor administrativo especial, com remuneração em torno de R$ 3 mil, além de possíveis gratificações.
A decisão do TRE, de 30 de julho, não deixou dúvidas: o MDB de Japaratinga montou um esquema de candidaturas femininas fictícias para driblar a legislação eleitoral. O tribunal cassou quatro vereadores e determinou a retotalização dos votos, que levou à posse de novos representantes no Legislativo municipal. Ainda assim, o nomeado agora ocupa um cargo público na estrutura da Assembleia, um órgão que deveria prezar pela ética em respeito às decisões da Justiça Eleitoral.
O episódio é mais do que uma simples nomeação: é o retrato de um padrão de comportamento político que atravessa gestões e partidos. Em vez de servir como punição ou aprendizado, a cassação parece ter sido tratada como um mero contratempo burocrático. A presença do ex-vereador na ALE reforça a percepção de que, em Alagoas, a perda de mandato por irregularidades eleitorais não impede o retorno rápido aos espaços de poder.
Num momento em que a sociedade cobra transparência e responsabilidade, a Assembleia deveria prestar explicações sobre os critérios adotados para a nomeação. Do contrário, continuará alimentando o descrédito que cerca as instituições e a sensação de impunidade que tanto desgasta a vida pública alagoana.