
O senador Renan Calheiros (MDB/AL) não esconde a paixão pelo CSA. Mas, no jogo da política, paixão custa caro e, no caso, saiu do bolso do contribuinte. Em 2024, Renan destinou R$ 1 milhão em emenda parlamentar ao clube, verba que, segundo ele, deveria bancar a formação de atletas nas categorias de base. No entanto, parte do dinheiro acabou pingando diretamente no salário de profissionais do time principal, incluindo fisioterapeuta, preparadores e o chefe do departamento médico.
O repasse foi articulado com a ajuda de Rafael Tenório, ex-presidente do CSA e suplente de Renan no Senado. Não por acaso, o levantamento do Globo apontou que o senador integra um grupo de parlamentares que, juntos, despejaram R$ 13,5 milhões em 31 clubes de futebol desde o ano passado.
A presidente do CSA, Mirian Monte, não esconde: a verba “salvou” um ano difícil e, de quebra, ajudou a sustentar a estrutura do elenco profissional.
Renan, pressionado pela repercussão, diz apoiar uma apuração: “Se o clube usou de forma diferente, sou totalmente favorável ao esclarecimento.” O Ministério do Esporte já deixou claro: se for comprovado uso indevido, o dinheiro terá que voltar para os cofres públicos.
Eis a contradição: enquanto os alagoanos enfrentam problemas urgentes, R$ 1 milhão de verba federal foi parar no caixa de um clube de futebol. A situação escancara um dilema recorrente no uso das emendas parlamentares: até que ponto o atendimento a interesses esportivos, legítimos no âmbito cultural e de lazer, pode se sobrepor a demandas, como saúde, educação e assistência social?
No caso de Renan, a relação histórica e afetiva com o CSA torna a destinação politicamente compreensível, mas socialmente contestável. O risco é que a paixão clubística, quando respaldada pelo orçamento público, acabe substituindo prioridades mais vitais para a população. No gramado das emendas, a torcida pode aplaudir, mas o placar social segue no zero.